Longe de ser apenas uma moda passageira, o retorno do vinil tem representado uma mudança de comportamento cultural no atual século, onde a experiência sensorial e a valorização do objeto físico voltam a ter protagonismo.
E os números não mentem: as vendas de vinil continuam crescendo ano após ano, superando até mesmo os CD’s em diversos mercados e se tornando o principal formato físico da indústria musical.
Dados recentes da RIAA (Recording Industry Association of América) apontam que, ainda que o streaming seja o principal ator da indústria musical, o mercado norte-americano alcançou o seu 17º ano consecutivo de crescimento, com uma elevação de 10% nos negócios se comparados a 2024 e atingindo, ao longo da última década, cerca de US$ 1,4 bilhão (R$ 7,6 bilhões no câmbio atual).
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Para muitos colecionadores e ouvintes, ouvir um disco de vinil é mais do que escutar música — é um ritual. Desde o momento de escolher o álbum na loja, passando pelo cuidado ao manusear a capa e posicionar a agulha no sulco certo, até o som quente e envolvente que preenche o ambiente, tudo contribui para uma experiência imersiva.
Como afirmou um vendedor de longa data da loja Stinkweeds, no Arizona (EUA): “Quando tudo está a um clique de distância, você não investe emocionalmente naquilo. O vinil exige presença”.
Essa presença se traduz em uma escuta mais atenta, em que o ouvinte se entrega ao álbum como um todo, respeitando a ordem das faixas e absorvendo a narrativa sonora proposta pelo artista. É uma forma de desacelerar em meio ao ritmo frenético do digital.
Outro fator que impulsiona o renascimento do vinil é o apelo visual. As capas de álbuns em formato 12 polegadas são verdadeiras obras de arte, muitas vezes assinadas por designers renomados ou pelos próprios músicos. Em um mundo onde a arte de capa foi reduzida a miniaturas em aplicativos de streaming, o vinil resgata o valor do design gráfico como parte integrante da obra musical.
Vinil no século 21: gerações diferentes, mesma paixão

Foto: Reprodução
Curiosamente, o público que impulsiona o retorno do vinil não se limita aos nostálgicos que viveram a era dourada dos LP’s. Jovens que cresceram com CD’s e streaming estão descobrindo o formato pela primeira vez, muitas vezes influenciados por pais, amigos ou pela estética retrô que permeia a cultura pop do século 21. Para muitos, comprar vinil é uma forma de se conectar com o passado e, ao mesmo tempo, descobrir novos sons de maneira mais orgânica.
Como relatado por colecionadoras entrevistadas em Phoenix, o vinil é uma ferramenta de descoberta musical e preservação da história. “Sinto que descubro mais música em uma loja física do que por meio de algoritmos”, afirmou uma delas.
As lojas de discos independentes também desempenham um papel fundamental nesse movimento. Além de oferecerem um catálogo diversificado, muitas promovem eventos, lançamentos e encontros entre artistas e público. Comprar vinil em uma loja física é, portanto, um ato de resistência cultural e de apoio à economia criativa local.
Embora o streaming continue sendo o principal canal de acesso à música, o crescimento constante das vendas de vinil mostra que há espaço para diferentes formas de escuta coexistirem. Em 2023, o vinil representou 71% das receitas de formatos físicos nos Estados Unidos e a tendência é de que esse número continue subindo, impulsionado por lançamentos de grandes artistas, reedições de clássicos e o interesse crescente de novos públicos.
