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Lorde e o desnudamento da alma na capa da edição em vinil de ‘Virgin’

A cantora e compositora neozelandesa Lorde, conhecida por sua abordagem introspectiva e estética singular, acaba de lançar seu quarto álbum de estúdio, intitulado Virgin. O projeto marca um retorno ousado e visceral após o solar e contemplativo Solar Power (2021), e já está gerando debates intensos — não apenas por sua sonoridade crua e emocional, mas também pela arte gráfica provocativa que acompanha a edição em vinil.

Lorde descreveu Virgin como um trabalho “escrito com sangue”, uma metáfora que se traduz tanto nas letras quanto na estética visual do projeto. A artista mergulha em temas como identidade corporal, sexualidade, saúde mental e relações familiares com uma franqueza desconcertante.

Foto: Reprodução / Instagram / @lorde

Faixas como Broken Glass abordam sua luta contra distúrbios alimentares, enquanto Favourite Daughter revela as pressões de corresponder às expectativas maternas e sociais.

A canção Man of the Year, inspirada por sua presença em uma cerimônia da GQ, explora uma persona masculina alternativa, desafiando normas de gênero com versos que misturam ironia e libertação. Já Clearblue, uma faixa a capella com forte uso de autotune, retrata o momento íntimo e tenso de um teste de gravidez, transformando o ordinário em arte emocional.

 

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Se o conteúdo musical já é suficientemente impactante, a embalagem do vinil de Virgin levou a proposta de exposição ao extremo. A capa externa apresenta uma imagem em raio-X de uma pelve feminina com detalhes como cinto e DIU visíveis — uma escolha que já sugere a intenção de revelar o que normalmente é oculto. No entanto, foi o encarte interno que causou maior comoção: uma fotografia de uma pessoa — presumivelmente Lorde — usando shorts plásticos transparentes, parcialmente abertos, com pelos pubianos e vulva visíveis.

A imagem viralizou nas redes sociais, dividindo opiniões entre fãs e críticos. Alguns aplaudiram a coragem da artista em desafiar tabus e padrões de censura, enquanto outros questionaram os limites entre arte e exposição.

Lorde, até o momento, não comentou diretamente sobre a imagem, mas em entrevistas recentes afirmou que queria que o álbum fosse “claro como água de banho, gelo e saliva” — uma estética de transparência literal e simbólica.

Musicalmente, Virgin não se prende às convenções do pop radiofônico. A produção, assinada por nomes como Jim-E Stack, Dev Hynes e Dan Nigro, aposta em texturas ásperas, sintetizadores crus e estruturas não convencionais. A faixa If She Could Only See Me Now é um exemplo de como Lorde assume uma postura quase mística e agressiva, desafiando a suavidade esperada de uma estrela pop.

Essa recusa em suavizar sua arte também se reflete na forma como o álbum foi lançado. Em vez de uma campanha publicitária grandiosa, Lorde optou por uma divulgação mais orgânica, afirmando que não queria “fazer o jogo do Pop com P maiúsculo”. Ela preferiu deixar que as músicas falassem por si — e elas falam alto.

Lorde: reações e reflexões

O lançamento de Virgin reacende discussões sobre os padrões duplos enfrentados por artistas mulheres ao explorarem sua sexualidade e corpo na arte. Comparações com outras artistas, como Sabrina Carpenter, que também enfrentou críticas por capas provocativas, mostram como o julgamento público ainda é moldado por uma lente patriarcal.

No entanto, Lorde parece menos interessada em agradar e mais comprometida em ser fiel a si mesma. Virgin é, acima de tudo, um exercício de coragem artística — um convite ao desconforto, à reflexão e à empatia. Ao se despir metafórica e literalmente, a artista nos lembra que a vulnerabilidade pode ser uma forma poderosa de resistência.

Seja amado ou criticado, Virgin já se consolida como um dos lançamentos mais audaciosos do ano — e talvez o mais pessoal da carreira de Lorde.

Marcelo de Assis

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