Em meio à era digital, onde algoritmos ditam o que ouvimos e a música se tornou um pano de fundo constante, a Biblioteca Pública de Filadélfia (EUA) decidiu remar contra a corrente.
Através de uma iniciativa simples, mas poderosa, a instituição está resgatando o prazer de ouvir música de forma coletiva e consciente. Trata-se do Vinyl Record Listening Club, um clube de audição de discos de vinil que acontece mensalmente na icônica Parkway Central Library, no coração da cidade.
O clube foi idealizado por Jane Lippman, bibliotecária e entusiasta da música, que percebeu a carência de espaços acessíveis onde as pessoas pudessem se reunir para ouvir música de forma ativa: “Filadélfia não tem muitos lugares gratuitos onde se possa simplesmente sentar e escutar música com outras pessoas”, explica. “A maioria das audições de vinil acontece em bares, lojas especializadas ou em casas de amigos — ambientes que nem sempre são acessíveis a todos.”
A proposta do clube é simples: uma vez por mês, sempre às quartas-feiras, das 17h30 às 19h, adultos de todas as idades se reúnem para ouvir discos de vinil, discutir suas impressões e compartilhar histórias. Os participantes podem trazer seus próprios discos ou escolher entre os títulos disponíveis na coleção da biblioteca, que inclui desde clássicos do jazz e do soul até lançamentos contemporâneos e raridades.
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O que torna o clube especial é a diversidade de gostos e experiências que ele reúne. Em uma mesma sessão, é possível ouvir desde Anita Baker e Japanese Breakfast até compilações de punk japonês ou faixas do novo álbum de Beyoncé. A curadoria é colaborativa: os participantes sugerem temas, escolhem os discos e, se quiserem, podem até conduzir uma sessão.
Segundo Lippman, o objetivo é criar um ambiente acolhedor e democrático, onde todos se sintam à vontade para expressar suas preferências musicais. “A música conecta as pessoas”, afirma. “Queremos que esse clube seja um espaço onde possamos nos sentir menos sozinhos em nossa forma de consumir música — e mais conectados por meio dela.”
Vinil: participantes da biblioteca são jovens que estão descobrindo o formato
Embora o vinil evoque uma certa nostalgia, o clube não é voltado apenas para colecionadores experientes ou saudosistas. Pelo contrário: muitos dos participantes são jovens que estão descobrindo o formato agora, atraídos pela estética, pela qualidade sonora e pela experiência tátil que o vinil proporciona. Outros são ouvintes casuais que simplesmente querem explorar novos gêneros e artistas fora do circuito comercial.
A biblioteca, por sua vez, vê o clube como uma extensão natural de sua missão educativa e cultural: “Estamos sempre buscando formas de promover o acesso à arte e ao conhecimento”, diz Lippman. “E a música é uma linguagem universal que pode ensinar, emocionar e transformar.”
O sucesso do clube tem sido tão grande que já há planos para expandir a iniciativa. Lippman pretende organizar oficinas sobre cuidados com discos, produção de zines musicais e até sessões temáticas com convidados especiais. A ideia é transformar o clube em um programa comunitário contínuo, com participação ativa dos frequentadores.
Além disso, a biblioteca está incentivando os participantes a se inscreverem em uma lista de e-mails para receber atualizações, sugestões de escuta e convites para eventos futuros. Tudo isso de forma gratuita, reforçando o compromisso da instituição com a inclusão e o acesso à cultura.
Em tempos de consumo acelerado e distrações constantes, o Vinyl Record Listening Club surge como um convite à escuta atenta, ao diálogo e à construção de comunidade. É uma oportunidade de redescobrir a música como experiência coletiva, de se emocionar com histórias alheias e de encontrar, nos sulcos de um disco, conexões que vão muito além do som.
Para quem estiver em Filadélfia (EUA) ou de passagem pela cidade, a próxima sessão acontece na última quarta-feira do mês, na sala de música da Parkway Central Library. Basta chegar com curiosidade, respeito e, se quiser, um disco debaixo do braço. Afinal, como bem sabem os amantes do vinil, ouvir música é — e sempre foi — um ato de presença.
